quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

de ti, rambo


Desculpa se eu demorei tanto
- tanto
pra entender, de tudo que
- de tudo
que você me disse o mais importante
- importante?
foi o que faltou dizer...

Agora eu sei, ainda é hora?
- já vai tarde, melhor ir embora...

E agora, como é que eu faço?
- cansei de sempre chegar atrasado...



meu coração imoral
não me consulta sobre nada
chega e dói
quando eu rio


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011


Algumas mentiras precisam ser contadas
pra se dormir melhor...

outro dia eu acordei
sem sono
sem querer saber,
apenas ciente

Algumas mentiras doem no peito
outras de mim tem dó

por isso eu ando
tranqüilo sem
me preocupar
se minto (quando)

Algumas mentiras precisam ser contadas
mas também não é pra tanto

- confessa, vai
você já sabia...


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pizzaria Guanabara


Difícil ser feliz nas festas de Santa
Tereza ou sentado nas escadarias
da Lapa por melhor que seja
sua companhia é difícil ser
sinceramente feliz na
pizzaria guanabara às
cinco da manhã em
meio a pedaços de
pizza fria e o cigano
igor de chapéu há
lugares em que
você sabe que
não vai ser
feliz mas
vai

Gregorio Duvivier

sábado, 24 de dezembro de 2011

Dar um nome


estou ciente
de que é o fim da ilusão
alheia e o resto
é qualquer resquício
- de melancolia...

eu
que nunca acreditei em nada
eu
que sequer provei um pouco de cada
- estou sem pronde ir...

- e agora, meu filho
no beco escuro,
ali é o muro, e agora?

- e agora, minha mãe,
não faço nada, faço o que sempre
sonhei fazer...


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ser químico

Químico, químico, sou um ser químico
Um ser químico eu sou

E preciso de laxante pra evacuar
Bagulho pra imaginar
Sonífero pra apagar
Pozinho pra me ligar
De manhã eu já tomo guaraná
À tardinha, só no veuve clicquot
A siesta, passo com poire
A noitinha, me viro com licor

Químico, químico, sou um ser químico
Um ser químico eu sou
Químico, químico, sou um ser químico
Um ser químico eu sou

Diurético pra urinar
Flatulante eu preciso pra peidar
De calmante pra sossegar
Vitaminas não é bom largar
O meu pó paranoia nem mais dá
Mas complexo eu tomo do B
Sem contar com a vita A
Vita C e vita D

Químico, químico, sou um ser químico
Um ser químico eu sou

Como sou um cara prático
Passo logo tudo no cartão
Linha direta com a Drogaraia
Hotline com o Boqueirão
Cheques não dá pra assinar
Pois o cigarro não consigo soltar
Um bom vinho me faz relaxar
Um whisquinho me permite pensar

Químico, químico, sou um ser químico
Um ser químico eu sou

E eu misturo, misturo
Mas nunca troco as bolas
Bolas que preciso
Sempre de hora em hora
Nicotina me faz concatenar
A quem dedico o meu bem estar
O charuto sempre acesso
A fumaça pairando no ar
Dá ela à minha vida
E de quebra defuma meu jantar

Químico, químico, sou um ser químico
Um ser químico eu sou


Daniel Novik

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

*


Durante a Segunda Guerra
os responsáveis pela demolição de pontes
eram os engenheiros do Corpo de Engenharia;

dentre elas (as pontes demolidas),
a mais doída
era aquela pela qual
tinham acabado de passar.




segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Paleolito


Alto
Magro
Esguio:
Anda
Desengonçado como só:
Não é fácil
Viver entre feras
Menos ainda
Viver
Entre postos
De gasolina, fronteiras,
E bandeiras nacionais:
E você já tem 20 anos
E ninguém te responde:
Nem vai.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Doidão


Dão dois
os dois:
- esse lance é sujeira...
- os bola tão na cola?
- aqui é o coqueirão.
- então beleza...


Tatuagem


Não uso tatuagens de que não preciso.
Nada contra imagens que
digam de mim pelas costas
braço
pescoço...
A que carrego comigo
fica no interior
da peça;
foi marcada a ferro e fogo
e sai toda pela boca não deu
um minuto de conversa
(lembro como doeu, fazê-la...)
Minha tatuagem, sobreviverá a mim,
porém, sem corpo que a sustente,
- quem a viu?

No meu enterro ela jogará flores

minto,
jasmins.


sábado, 3 de dezembro de 2011

Steinhäger

(a Claudio Freitas Faria)



me prender é fácil, eu
que passo deixo um rastro
em cada esquina,
me prender é fácil...

me jogar, é fácil, numa cela
fria escura, longe da sua
da sua e da sua consciência,
me jogar é bem fácil...

difícil é responder ao
combustível fóssil de minha indagação.
é responder com o que quer
que não seja não:

de que vale a vida, vela de bolo
de aniversário? difícil
é me dizer:
- senão cocaína, então, o quê?




terça-feira, 29 de novembro de 2011

Oriente


assim ficou meu objeto
concreto desafiando o céu
torto curvo, um prédio?
uma árvore
um salão ?
dane-se ingenuidade
a sinceridade
puristas...
ninguém jamais saberá sequer
interferir
inferir
um qualquer sig-ni-fi-ca-do
(antes fosse cedo...)

perplexos, esquecerão meu objeto


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

De Novo Rio


Quando tudo vai mal
Penso em fugir
Toco pra rodoviária
Já não me deixo iludir
Ser pra sempre o passageiro



Me chamam otimista
Eu sou fotógrafo
Buscar sempre
O melhor ponto de vista


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Frio

 (Daphné, Django Reinhardt - de alguma maneira ele me disso isso)

Escrever, Respirar
quando se tem
muito
ar.
Espiar pra dentro
de algum lugar
e espirrar

numa folha

de papel
branco.
Branco
De onde vem inspiração?
de Dentro da folha que suga minhas
mãos?

ou do sangue que pulsa

no

meu
















Pulmão.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pin'd'gent'

(ou O que não coube no poema, boto no pescoço)


dentre todas as outras
as jóias mais caras, escolhi esta
para fazer meu pingente:

não tem ouro nem marfim,
fita ou cetim,
o meu pingente é só e é isso que ele é:

de cada lágrima destilada,
cada noite no baixo gávea,
secretamente escondi

em meu peito cabeludo e duro
uma nesga, uma lasca
do que poderia ser, tivesse sido...

meu pingente é forte como sol e
frágil feito o amor

desfilo com ele à mostra, pendurado no pescoço
e é tão singelo o meu pingente

que faço que esqueço a dor que deveras sinto,
sabê-lo tão pequeno, tão fugaz,

tão...

um pingo de gente


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

música para secretária eletrônica


é , acho que eu não soube amar,
vai ver eu só não tive sorte...
é tão natural pra mim preferir a morte(?),
a voltar lá pro começo...

outra vez o fim da fila e eu já
tão a vontade...
mas a minha vontade mesmo era ficar
(lá no começo...)

vai ver eu só
não tive sorte

vai ver eu só

o meu endereço, continua o mesmo
todo o resto é que está fora do lugar;
outro dia
achei minhas chaves na cozinha,
já o coração, não consegui achar...

e é tão natural pra mim
sentir medo,
vai ver eu só
não fui tão forte...

é tão natural pra mim
preferir a sorte, eu que estou
só no começo...


I


rosto emoldurado
quadro tridimensional
uma nesga de realidade no seu queixo largo
você cisca cisca migalhas de amor
enquanto eu jogo pedrinhas
e você não vem


No banheiro

(Poesia pura)


Eu como saudade no café da manhã
ao leite, ou com alguma fruta;
o meu almoço, é minha fraqueza que me alimenta
e às vezes nem sei como é que eu agüento
de tanta fadiga...
o mocotó do osso vai todo, no dia-a-dia;
para o jantar uma boa taça de um bom vinho
regado a melancolia.
Agora, quando eu devolvo
tudo isso ao mundo,
meu amigo,

nem te conto...




Balanço


prá frente,
pra trás...
joelho dobrado,
agora esticado...
prá frente,
pra trás...
parece uma lei natural
mas não é.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Soneto Romântico

(para Ana Maria)


ai, o meu amor é tão clichê
e gruda que nem chiclete
pela primeira piriguete
que pinta no pedaço;

e eu nem cobro cachê
pra aparecer de otário
na revista ou na tevê
(ao lado de um papagaio...)

ai, meu coração virulento
expande franco desalento
no universo virtual

meu amor é tão clichê, ai,
tão band-aid
– gruda e dói pra tirar


domingo, 13 de novembro de 2011

Noturno nas entranhas da máquina


os ruídos da cidade noturna,
já não sei se são meus ou dela;
olho pela janela sabendo,
em vão:
se já não havia
                          eu, ela, imensidão


Estudando o ritmo


I
(se fosse uma letra de música)

quem me vê assim passando nem imagina
que passei a noite em claro, chorando.

engulo o orgulho, minto pra mim
misturo no feijão o que não consigo

confundo cachaça e amigo,
lágrima e violão.

mas se ela perguntar por mim
só diga que não:

não estou, não estive
nunca estarei.


II
(se fosse um Paulo Henriques Britto)

quem me vê assim passando
nem imagina que passei a noite
em claro, chorando.

engulo o orgulho minto
pra mim, misturo no feijão
o que não consigo...

confundo cachaça
e amigo, lágrima
e violão;

mas se ela perguntar
por mim,
só diga que não:

não estou
não estive
nunca estarei.


III
(fosse um Waly Salomão)

quem me vê assim passando
nem imagina que passei a noite em claro,
chorando.

engulo o orgulho minto pra mim,
misturo no feijão
o que não consigo

confundo cachaça e amigo, lágrima e violão

mas se ela perguntar por mim,
só diga que não:

não estou
não estive

nunca estarei


domingo, 6 de novembro de 2011

Compulsão


escrever com pulso firme
até que a convulsa folha
abrigue todo o corpo do poeta
que é verbo, ponto, e letra.
o maior cuidado, não!
o único,
é para não rasgá-lo
poetas sentem como tesoura
o efeito de um violão ou
de uma cachaça.

All of me

(Disse alguém)


você ainda garoto,
seu sorriso bobo,
vantagem da idade:
não temer quedas livres;

a cidade passa de taxi
e ela é sofrida ao amanhecer.
os tons de laranja botam-me
comovido como o diabo...

o pássaro do desejo
qual pombo e criança na areia
da praia, a onda do mar levou...

não saber dançar:
fato irremediável, ou só
dois pra cá dois pra lá?


poema-feto-morto

(para Paulo Henriques Britto)


sabe aquilo que você não disse?,
em um verso que não aconteceu,
sobre o amor que você nunca teve...
- pois é, não li.



Santiago, nunca fui:
se acatei foi pela ausência
de provas em contrário.

Santiago me disseram: aceitei
na medida do aceitável,
homem pragmático que sou.

Bem-te-vi, bem-te-vi...
e daí?
Ninguém responde.

Bem-te-vi, bem-te-vi,
me ensina um canto
que de tanto repetir virarará nome...


desconstruindo


é difícil juntar os cacos de quem que se foi,
inda mais quando tão variadas
são as formas possíveis do mosaico:

toda vez que tento, burros n’água...
luto com o vento?
(questão de hábito)

vai ver você sempre foi um mosaico
que se construía pelo bel-prazer
de alguma coisa;

vai ver continue eu
no associar as peças, acrescentar respostas e enigmas
aos que você deixou

vai ver tenho um milhão de pais!
ou mais (?)

vai ver...


segunda-feira, 31 de outubro de 2011


umas cordinhas invisíveis
que nos prendem à vida
me pegam pelo pescoço
toda vez que admiro
a imensa descida...

do que a força irresistível
a puxar pra baixo,
as cordinhas invisíveis
são o melhor rastro
de que não há saída...

se tudo é prédio, é lage,
só no chão estará seguro
quem pretender ainda
morrer de longevidade...

já quem aspira
atingir estrelas pela via expressa
da vida, subirá por essas cordinhas mesmo
- chega de ser carregado!

só cuidado com a longa queda...


sábado, 29 de outubro de 2011


Tem coisa que
não se diz
porque não
cabe
em lugar algum
e não é pra sair
não pode
não dá
mas dá pra
entrar






por Carlos-coração-de-Tigre

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Somos um cigarro


O corpo é a seda:
ou seja,
não importa (tanto)
a qualidade
o importante é que
dê pra fumar;
quem nos fuma é o
tempo, o devir;
o conteúdo somos nós
que preenchemos:
tabaco, bagulho,
é o de menos...
cabe criar que fumo
seremos
(se psicotrópicos, alucinógenos,
energéticos, ou
anestésicos...):
- queime depois de ler.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

As velas


As velas

não se perguntam por que queimam,
o ser do seu brilho,
da dor do fogo
nada sabe a vela;

não sabe a vela
que quanto mais brilha
mais escuro fica
o escuro

e quando brilha pouco
cada vez menos,
não brilha
até que se apague
antes do tempo;

há pouco era enorme,
e agora já vai curta...

e mesmo se perguntassem
no mais fundo,
ainda assim,
do pavio
haveria (e hão!)

de sempre e até o fim, brilhar.


quarta-feira, 19 de outubro de 2011


se engana quem pensa
que um viajante
está sempre a mudar de endereço:
a viagem começou faz muito,
muito tempo atrás
(acho que foi
em 1991);
e de lá não parou,
girou correu dançou
e até ficou um tempo quieta, mas
se engana quem pensa
que uma pausa –

– é o fim...
que a parada é um intervalo
(lúdico-amoroso?)
que nada!
viagem é sempre, é tudo
não é uma droga
viva!
GRITE!
Ame!
e quando por fim
(que é o destino de toda gente)
desejo tão só


que você MORRA...


Viajante


se engana quem pensa que um
viajante está sempre a mudar
de endereço: a viagem começou faz muito,
muito tempo atrás (acho que foi
em 1991)
e de lá não parou, girou, correu
dançou, e até ficou um tempo quieta, mas
se engana quem pensa
que uma pausa –

– é o fim da viagem...
que a parada é um intervalo (lúdico-amoroso?)
que nada!
viagem é sempre, é tudo, não é uma droga
viva! GRITE! AME!
e quando por fim
(mas não menos importante,
que é o destino da gente)
desejo sinceramente

que você MORRA!!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Idade da Água

(possível prelúdio)


já chega de falar em pedras, não é mesmo?
basta de pensar em pedras, como pedras
basta!

a verdade é uma pedra? que nada!
uma água, um oceano, um imenso nada!
muito de nada... (nademos)

fazer da incerteza uma farda, da insegurança
uma espada! (penetrante como um samba ao violão):
da água, uma pedra.

aliás,
já chega de falar em pedras...


domingo, 16 de outubro de 2011

solidão revolucionária


- antes do fim, antes do amor
preciso é saber girar entre astros
sem se queimar -

disse-me o sol, quando entre planetas,
se engraçando pra cima da lua
corando as faces dela,

- o amor queima, e a solidão
é a única revolucionária (e tanto pior quanto
mais despropositada) -

de tanto girar, tontos
ficamos, a esmo, e perceber é preciso
que ao fim de cada ano
voltamos
sozinhos, pra os antigos mesmos lugares


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

0


o zero é separar numa folha em branco.
branco do branco.
branco sobre branco.
sob branco...
isto daquilo, daqui pra lá
não passa
mesmo que seja nada
(até porque se um tentasse
não seria mais zero, seria um).

zero é o próprio ato de zero:
sua linha
que cerca a si mesma
cria um dentro
(e um fora)
onde podem nascer uns, e doises,
e três, e quatros e um milhão!
infinitas vezes...

antes era nada...
zero pra quê?
se tem zero, não bota nada
vai fazer outra coisa (arranjar algum?)
...

mas não, tinha que vir um engraçadinho
falando que o nada é um grande nada
e tudo é o que existe...

De que entranha onírica, Mãe Terra, tiraste
estes espécimes que tanto me confundem a cabeça e fazem

eu andar pelas linhas tortas.?!


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Porta-retrato:


Que medo é esse
que traz seu nome
e faz do esforço
do desapego
um mal necessário ao homem?

Assiste
do alto de um relicário
nos retratos de família,
entre o cinzeiro e o porta-copo,
o envolvimento da mente
o recrudescimento dos corpos;

Brinda
mais um dia no mundo
que a noite depois consome:
Morte,
talvez seja esse teu nome
e a mão que dá
talvez seja a mesma que tira
e você
já não seja só morte
e nem seja só vida.


sábado, 24 de setembro de 2011

A casa é a vida

(Sabe quando você quer muito chegar em casa, mas não pode porque essa casa não existe? Todos com a Palestina!)

Do alto da janela dos meus olhos
lá embaixo vejo os pés,
questão de método:
um depois o outro.
uma queda sempre-adiada
mas que um dia
chega.


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

( )


todos podemos ser (virtualmente) um Leão.
muitos de nós, definitivamente,
não o são.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Perde, ganha


Assistir morrer a um velhinho,
é coisa boa.
pelo menos isto ainda está no lugar:
a vida.
(se entristeço, lembro
que cada um velhinho
já foi criança um dia)

Ver chorar um menino,
desanda tudo...
e pensar quantos deles
ficaram pelo caminho
(aí, as lágrimas correm, e tenho vontade
de rir e chorar com eles);

acho que nunca superei a juventude.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011


a alegria não precisa de lastro,
a poesia sim (quem a suporte,
papel e lápis);

a alegria não lida com a morte
ao menos não diretamente;
respeita apenas
a senhora sua mãe
(que é triste como só...)

a tristeza, a saudade, o remorso
até mesmo a solidão tem hora...
a alegria por sua vez,
sempre lhe abra a porta:

que se ela implica contigo,
amigo,
duma vez vai s’imbora...


De onde vêm as pedras no pasto?

(Oração para uma noite escura)


A pedra é a pedra da pedra
(lasca de rocha primeva)
a pedra é sem mundo,
a pedra é sem mãe?
Só a pedra mais pedra
sobreviverá à manhã...


sábado, 17 de setembro de 2011


Reivindico antes o direito das vacas e bois
de pastar em paz!!
Antes o direito de um cachorro
escolher seu próprio dono.
Levar na boa a minha colméia...
ou sumir da vista como a águia some...

(Cagar e andar, para alguns, não é
mera figura de linguagem)

Direitos humanos?
deixe pra o Homem.


O rio


O presente momento é sempre culminante:
afluência de memórias, escusos desejos
vem matar a saudade pelas beiradas...

a que se encaminha?
nem que se reme contra a correnteza, nem isso
atingir a margem também
não é preciso;
o perguntar
já basta:

- pra onde?


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Agora falando sério


Quem suporta esse lance
de ser carioca e ficar
com um olho na sirene outro no traficante?
Quem, não tendo razão alguma
pra aderir às partes
beligerantes,
se vê tão mais encolhido
quando a noite adentra...

– Tiros, tiros, tiros –

A violência anda cara
no Rio, mas há
quem lhe banque:
uma parte vem do pó
outra do restaurante.

– fogos estourando –

Enquanto isso (e não obstante)
Dioníso em solo tupiniquim
sobrevive só porque esguio;
foi pro terreiro, o expulsaram
subiu o morro, ocuparam
entrou no baile, pacificaram
(não há harpa ou lira que baste!)

– uma salva de palmas –

violência mesmo não é
essa violência barata
que se vê nos jornais;
onde foi parar aquele choro cortante
de uma roda de samba?
Pisadas de pata de elefante
sobre o baile funk

– ... –

acharia bom que fizéssemos algo antes
que os corações ficassem
por demais duros
de se proteger das balas...


Um viajante solitário trava contato com um totem de pedra rígida, a própria divindade.
Interroga-lhe sem, no entanto, obter resposta, e ao reparar no céu a chuva em gestação, desespera:
- Por que me ignoras!?!
As primeiras gotas se faziam sentir bem de leve sobre a pele.
O viajante sai de cena.


terça-feira, 13 de setembro de 2011

(Vidianas)


eu estou lendo essa frase agora;
e mais essa
posso ouvi-la
na minha cabeça...
não consigo
(sei)
mas não consigo acreditar
que é só
tinta no papel.



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

despedida


a morrer estou já faz vinte anos,
um tempo longo pra aprender a morrer...

já não sei se posso me considerar morto
(quanta prentesão…)

pelo menos
                         dá pra viver.



Recusar-se a responder não nega a premência da pergunta:
o fato de sermos máquinas de elaborar sentidos
uma consciencia que é nosso cão guia
(e é mais cega que todas)
faz de cada gesto um luto
um protesto = um murro?
um preconceito é um muro já estou certo,
mas como pesa.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Notas do descobridor em sua viagem à terra: Brasil

(Para o rei Carlos III)


Ritual 1

Acordar cedo. Seja por um pequeno bichinho ao pé da cama, o gato, seja por um outro, elétrico, despertador. Levantar é preciso, passado de geração em geração, uma técnica. (Diz-se que quanto antes do nascer-do-sol, mais ajuda da divindade se recebe).
Depois vem a parte burocrática, molhar-se, comer, vestir...

Ritual 2

Encaminhar-se a um sistema auto-regulatório denominado ‘fila’, no qual parecem abstrair do mundo, entrando em estado de êxtase (um êxtase solitário). Alguma forma mecânica os transporta até despertarem do transe, no local onde irão passar as próximas horas. (aí outro começa...)
Daqui os etnógrafos continuem...

Parêntese analítico

(O momento do transporte é marcado por uma tensão que não poderia registrar. Toda uma ética dos olhares, uma assembléia silenciosa. De um lado e de outro, uns se arriscam, outros retraem, uns encaram, todos jogam)

Ritual número 5

Quando da hidratação, trata-se dos momentos mais interessantes, ao olhar do descobridor: o contato tão banal com essa substância imprescindível a eles é de uma vivacidade tal, ó Vossa Majestade, precisaríeis ver para crer! Quantos tesouros...


As crenças se distribuem, num primeiro momento, em relação ao sujeito (o que lhe é próprio). Depois vão se justificar num nível mais amplo que diz respeito a realidade. São poucos os que prosseguem nessa escalada, mas há os que, interrogando-se sobre essas “justificativas” mais gerais chegam num impasse que é o do absoluto.


Parece que aqui, ó Majestade, uma nova raça de homens habita! É coisa rara e incrível, mas tem de acreditar em mim. Quem o diga que é urucubaca essa coisa toda de cosmos... Não podia crer a princípio na falta de unidade, na sua impossibilidade, mas... de fato, 2+2 não é igual a 4, simplesmente porque não há 1. Mas será 0 o Caos?


É o seu mais humilde servo que lhe implora, Vossa Majestade, envie uma esquadra de guerra para nos socorrer!! Se antes foram muy hospitaleiros, nos alimentaram, abrigaram, agora nos trancafiaram estão dizendo que vão nos comer!


Assinado
John Fritz Kennedy

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

na fila



meus vícios: amor e dor
(este ‘e’ não sei se devo)

mesmo assim
e enquanto isso

há quem me valha:
violão e cigarro de palha


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

IV



odeio mariposas.

elas e o meu amor
andam juntas, vem com o verão;

sei que virão temporais,
ressacas mar bravo
e o pior de tudo:
sei que meu amor anda próximo
(posso quase senti-la respirar)

o sol vem espiar de perto
eu espiar de perto a mariposa
que arrisca tudo pra espiar de bem perto
a lâmpada.

o verão é isso, essa incandescência
(podemos dizê-lo do amor, se assim quisermos)
já as mariposas não,
morrem
ao chegar bem perto da luz.


Canção do pescador



não importa a palavra
que você me diga
(Lacan ou Iansã)
importa o peixe que cai na rede
e mata a fome
(e matando
revive);

não importa qual seja
a sua ferida,
o seu trauma
é indizível
invisível
inodoro
e insípido
(sua dor é água...);

mas você é forte que eu sei
não vai cair
na infantilidade de poematizar-se...

mas você sabe
que as palavras todas que você pensou
pra me dizer não passam

de variações da palavra palavra.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Bum!, Bum!

(mitologia do Kaos)



retirado das paredes de
uma caverna sobre o
concreto armado numa
esquina do Leblon;



explosões de bombas atômicas Cá dentro do peito

completo Desconhecido caminhando ao meu lado...

no centro, não são só os edifícios que são pesados
as pessoas também
pisam passos de elefante
(só não voltam pra morrer)

;

quem diz de si mente
Si já esta falando quando diz

Si auxilia mas ilude, cuidado
com Si o jogo é sério e o ritual é duro

Quem come dicionário e acaba cagando regra.

;

Meutempo é o meu tempo

não é o seu o seu o seu não é o da minha Avó
(infelizmente
talvez)

(pra quem?)

;

há quem se contente com pouco
Eu não

;

sábado, 20 de agosto de 2011

4/6



Leite do desejo pela montanha
desce em Niágaras
como se fosse puro...

Futuro incerto, que nos planeja?
qual e quantas bocas hei de beijar
na esperança de te ver de novo...

o solstício/solilóquio
já não pinta;

parece que a aposentadoria
vem para todos.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

na correria



é muito difícil competir com o barulho
da cidade, as luzes dos cartazes
anúncio do melhor perfume,
(nem me atrevo)

e é por isso que eu digo:

melhor assim
quando é preciso

o maior

cuidado

para as coisas

simples.


domingo, 14 de agosto de 2011

Gente boa

( Coluna social de pobre é grafite)


o chefe do movimento lá na Mangueira chamava-se Zito. Certa feita, por ocasião do roubo de uma BMW e que lhe dava o maior orgulho ele mandou que asfaltassem a rua que levava da boca até a quadra e assim ele ia todo feliz, todo ostentoso, e chegava só como, tiros pro alto, etc. O mês se passou, a polícia subiu o morro, e dá-lhes suborno pra não levarem a BMW. Carrão desses pra ficar indo da boca pro baile, do baile pra boca, que desperdício e por isso o Zito mandou que asfaltassem as ruas involta para que ele pudesse desfilar seu carrinho pela comunidade. E assim se fez e no mês seguinte dá-lhe polícia outra vez. mas os aviãozinho já tinham avistado os bola subindo, dando ao mestre tempo de mandar que escondessem seu precioso. Só que ninguém se ligou no rebaixamento, que baixinho, feito pra rodar na Europa, tava escangalhando só de passar por aquelas vielas esburacadas e tudo o mais. O Zito quando vai ver, como ficou puto. Quase matou. Morreu numa grana. Conta que ele, voltando da oficina encontrou pela rua o outro mestre, Cartola. Com uma viola sob os braços que ele disse “você pode asfaltar todo o morro da Mangueira, ou pode ser você mesmo sua BMW”. E foi aí que Zito tomou as outras nove favelas adjcentes, tornando-se então o maior fornecedor de drogas da zona norte do Rio de Janeiro.



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pra aquietar

citação: leve um homem e um boi ao matadouro. o que gritar mais é o homem. mesmo que seja o boi


A segurança é só.

já o medo
de sentir medo
anda sempre acompanhado...

daí os carentes de toda espécie
os viciados, os apaixonados...
( por isso o tráfico e por isso o Estado)

quem ousaria? – talvez por isso
os exorcismos de cada dia
nos sejam tão caros
mais que o cigarro

(daí o cigarro, daí o ronco dos motores:
o medo
rompendo a própria carapaça, eterno retorno...

ou melhor, esqueça

a quem estou tentando enganar

sábado, 6 de agosto de 2011

Não se aquiete


a segurança é só
o medo
de sentir medo,

quantos dias faz que o sol nasce igual(?)
do mesmo modo
não se acomode

o dia de amanhã
ninguém sabe
nem saberá

...
..
.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

vê se pode




ela fez um poema pra mim.

logo pra mim... que não sou e (desconfio) nunca serei
merecedor de poema
ou poematizável mas

ela fez um poema pra mim.

e o pior: me deu
onde já se viu?! se é pra fazer, que fique na gaveta
guardado
resguardado

- não gosto nem de pensar meu poema por aí voando bocas alheias




domingo, 3 de julho de 2011

Máquina

Macunaíma triping around


trens descarrilam
carros capotam
cedês arranham
lâmpadas queimam
cigarros ardem
e viram cinza
roupas desgastam
comidas se come
(e se caga)
meu corpo acaba
o salário acaba
a gasolina acaba
a esperança
a paciência acaba
a paz se desfaz
tão mais facilmente
que se fez
a poesia

é a única máquina que nunca pára.

sábado, 2 de julho de 2011

contato



Não espalha
é que eu to vendendo
dose de amor barato
docinho
amargo
(1 é 5 3 é 10)
em qualquer esquina
do Baixo Gávea;
pode ser menina, menino
mulher senhora...
é que eu também tenho vida
pra levar
sonho
constituir família
– não espalha.


sexta-feira, 1 de julho de 2011

DO CONTRA POEMINHO


Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passaralho!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Campanha solitária



Não use drogas
não se envenene
doe sangue

pra quem precisa
pra quem carece
de sustânça ou vitaminacê...

Não chore
não fale
não converse

doe sangue
a cada atividade
da sua rotina
(e cada gota à sua menina).

Nas veias correm hemácias
mas também espírito:
muito pouca chance

de você viver pra sempre.
Nem o sangue é perene
se ele jorra, aproveite

sangue bom é o que circula.


domingo, 26 de junho de 2011

formas elementares

rosto emoldurado
quadro tridimensional
uma nesga de realidade no seu queixo largo;
você cisca cisca migalhas de amor
enquanto eu jogo pedrinhas
e você não vem.

domingo, 12 de junho de 2011

Caos

                                                          s


                    c

                                                                                                          .


                                   o


                                                   a

quarta-feira, 8 de junho de 2011

ladainha

seus olhos não sei
se me lembram o mar,
pela fúria,
ou mel, pela cor...

mas é certamente
pela dor
que eles me fazem tão mal.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Enfim, tragédia

( ou De como nasceram os jogos de gladiadores)



Dois viajantes/comerciantes encontram uma mulher numa caverna (?) e ela era linda e eles eram pai e filho. O pai pegou-a em casamento, e arrastou com ele pra tudo quanto era colina da Grécia, o filho ia atrás a cabeça abaixada e os três iam fazendo compras e fazendo vendas... Depois de algum tempo o filho come essa mulher, que por sinal é esquisita a vera, e o pai fica sabendo, e fica putarasso!! O pai descobre eles e dá um empurradão no filho e começa a espancar a mulher, e o filho, que tava caído num canto levanta e tenta impedir o pai e o segura e bate no próprio pai. A mulher esquisita começa a gargalhar altíssimo e o pai quando viu o filho traidor agora esmurrando, o pai começa a agredir o filho e, num ataque de fúria, o mata. A gargalhada se intensifica ao ponto de o pai cair na realidade e se tocar. Depois de rir, ela se levanta e revela ser a grande morte, a morte sedutora a morte trágica a morte violenta. aí acaba

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Não sei escrever. Não faço poesia. Não faço prosa. Não sei pintar. Não faço música. Não enxergo cores. Não ouço notas. Não tenho expressão. Não interpreto. Não tenho mãos. Não tenho pensamentos. Não tenho sensibilidade.

-Eu sou a arte.
E ainda querem ficar me definindo e redefinindo todos os dias.

sábado, 28 de maio de 2011

Praia Longe

Meu único chefe não me dá ordem alguma
e eu decidi que vou ficar mais uns minutinhos
antes de me afastar dessa rede
- venta tanto aqui nessa praia...

daqui a pouco é noite alta, depois dela
a madrugada, e quem sabe até
se me permitir o sono, ver nascer o sol
- espantando o frio aqui dessa praia...

tudo isso é falta, que o meu amor me faz
é essa lua, esse frio, essa calma...

-eu podia só pegar um agasalho

sexta-feira, 27 de maio de 2011

poesia

poesia
s.f.
1. Arte de fazer obras em verso.
2. Gênero de composição poética.
3. Conjunto das obras em verso existentes numa língua.
4. Composição poética pouco extensa.
5. Qualidade dos versos.
6. Maneira de fazer versos, particular a um autor, a uma nação,
7. Inspiração.
8. Elevação de idéias.
9. O que desperta o sentimento do belo.


terça-feira, 24 de maio de 2011

- yo soy paraguayo e vim para matá-lo !
- para que ???
- paraguayo !!!

terça-feira, 10 de maio de 2011

- Mais?
- Mais.
- Mais?
- Mais, mais.
- Mais...?
- Mais.
- ...mais?
- Mais!
- Mas...
- Mas?...
- Mais num dá!...

domingo, 8 de maio de 2011

ela curtiu meu sorriso.
disse que, meio torto, é bobo,
e cutucandinho, me feriu:

não sei
se porque bom
ou ruim
doeu;

ela curtiu meu sorriso
( e não disse mais nada)
quando acessou meu perfil...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Só amor

Não quero nada, tão apenas
me afogar nas tuas carícias, nelas
morrer para tudo mais

terça-feira, 26 de abril de 2011

releituras (reloucuras):


Se eu fecho o olho
o instante que seja,
sobe a fumaça,
um vulto passa.
Medo, é escuro, é sombra
é coisa que não devia
(então como pode?)
acontecer...
Um gnomo, e nada menos
que um gnomo eu vejo;
se não existe, o bicho,
por que eu o vejo?
Não há porque.
Não há
senão
gnomo.
É só o que meus olhos podem ver.
E ele me mira, os olhos profundos
tocam minha alma
e ela também
entristeceu
(O tic-tac do relógio, distorcido,
corre, pára, corre,
nem ao menos sabe
para onde vamos).

O gnomo, o gnomo é simples
seu aspecto verde
verde ideal,
platônico;
o gnomo é simples
grave e sóbrio
sóbrio como terra
como terno
paletó.
O gnomo permanece
qual soldado,
imóvel.
Gnomo, enquanto respiro
respira
e se pisco, pisca ele
ambos calados
qual bicho no mato.

Mirávamos um ao outro
fixamente,
e o medo que é meu
indiferente é ao gnomo;
– sombra, sombra, sombra,
tão longe o interruptor!
O quarto nunca pareceu tão amplo
e vasto
de medos.
Cada livro acompanhava
ansiosamente
o desfecho.
Que haveria de acontecer?
e mesmo eu
não previa
desfecho possível...

Morderia-me, a criatura,
ou temeria
a minha presença?
Pensa, aquilo?

Um instante
foi preciso,
distraí-me, um pisco
e eis que some
o gnomo
some

O gnomo
some

O.
impressionismo Aldeia-velhiano:



(lama, lama, muita lama
plástico, e a grama alta
poeira na estrada fazia papel de asfalto;
chuva chuva e depois vento
e a calma que só o campo sabe como
- saberá mesmo?-
sim, de novo o sol a lamber o rosto
e isto posto, não digo mais nada
- ai, que preguiça...)

(lama, lama, muita lama
plástico, e a grama alta
poeira na estrada faz di conta que asfalto;
chuva chuva e depois vento
e uma calma como só sabe o campo...
um poodle que salta a colina;
-onde o bizarro é regra
me espanta a saudade.)

(lama, lama, muita lama
plástico e grama alta:
na estrada empoeirada, nem sinal de asfalto...
chuva, chuva, e depois o vento.
cachaça esquenta a noite, é quente
mas mente
o miojo não
- frio)

(exílio...
céu, mas não firmamento;
água,
água,
secou.
Sol agora,
nuvens depois.)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

em aldeia velha não tem farmácia
na padaria vende band-aid
não sou eu que sou maluco,
sou?
por achar lá o verde mais verde...

domingo, 27 de março de 2011

de repente, talvez do alto
de baixo, simplesmente talvez
do nada:
veio o silêncio;
vem, paira
e pousa
sobre nossa conversa
- abro a boca
mas ele inda está lá
entre eu, você,
talvez dentro, nós
tenhamos já percebido
a fragilidade das palavras

nos beijamos
Sou homem de poucos versos
digo, roucos
- quero dizer, porcos!
perdão: curtos!...
mas sem dúvida um tanto brutos...

Fósforo

Meu fósforo interior
se apagou já faz um tempo;
e qual não é sua saudade do brilho
que hoje também idealizou...
Mas ele sente, na noite escura
aquela vontade dos velhos tempos
de brilhar, brilhar, pra fora e
pra dentro: essencialmente brilhar
- essenci’alma –
mas ao invés, e lhe reconheço o esforço
de inda não ter esmorecido
(dizem que não leva muito
para um fósforo se biodegradar),
ele ainda procura;
alguns dizem até que se pode ouvi-lo
desejando quem o faça em luz
na noite escura:

- Onde está você!, minha caixinha Fiat Lux ?..

Conversa

olha só, tava pra te dizer já tem um tempo
quando a gente conversa
você parece ficar sempre um passo atrás
de onde tão seus olhos, sua boca;
quando você fala
sabe, parece que fica contido
e eu vejo isso, sabia?,
vejo na sua maneira de dizer as coisas
no seu modo de falar, de me olhar sempre
armas em punho, pronto pra se defender
do quê
eu não sei...
poxa, não precisa se fingir de tímido
porque isso
eu não sou! mas
acabo sendo...

então, se você fica um passo atrás
e eu também, numa conversa
a gente fica tão distante!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Eu como saudade no café da manhã
ao leite, ou com alguma fruta;
o meu almoço, é minha fraqueza que me alimenta
e às vezes nem sei como é que eu agüento
de tanta fadiga...
o mocotó do osso vai todo, no dia-a-dia;
para o jantar uma boa taça de um bom vinho
regado a melancolia.
Agora, quando eu devolvo
tudo isso ao mundo,
meu amigo, nem te conto:
é pura poesia!

terça-feira, 15 de março de 2011

II

- no escuro, pouco importa se os temos abertos ou fechados,
os olhos, você me dizia
como se eu nem imaginasse o seu medo e então
apertava minha mão forte
e eu sequer imaginava ser essa
mão tão veiuda e magra a tua única certeza...
mas tudo certo, pois
se tampouco você tinha idéia que
os teus olhos
pequenos cintilantes e fogo fátuo
também eram a minha
(certeza única)
- isso porque, no escuro, sequer os via...

segunda-feira, 14 de março de 2011

I

se eu te pego pela mão, e digo
- vem comigo!
e se não falasse mais nada:
sem dizer se é por um beijo
ou por um tapa, que a sua mão eu seguro;
se eu digo isso e mais nada,
e me calo, você me olha
bem no fundo do fim dos meus olhos
(onde dizem que fica a alma);
eu conheço essa cara,
mas,
agora fala



você viria?

terça-feira, 1 de março de 2011

não posso tentar descrever ou escrever

sobre algo

isso

não é poesia


poesia: de onde nasce?

de onde surge

tão cegos nos faz?

pois

ninguém a vê chegando

(sorrateira ela talvez

apenas se aproxime

quando tudo é surdo)

a poesia

vem em silêncio

se aproxima sem anúncio;

desanunciadamente

se revela e

quando o olho a alcança enfim

já ela está à frente

está já em performance

está num transe

seduz como se

sempre o fizesse

fosse sua essência


e como estivéssemos

numa grave contemplação

ao mármore mais antigo

esculpido do mais íntimo

ela se dissolve

desaparece

sem anúncio

e deixa os olhos

a mirar o vazio

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Liberdade condicional

Hoje pela primeira vez saí
pra passear na página
em branco.
Visitei palavras, virgulas, pontos,
versos
que há muito não via...
E como não lembrasse,
assustei,
de ver o quanto cabe
entre seus quatro cantos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

meu coração parou

seu pulso não sinto correr em veia alguma
não sinto mais as mornas batidas

e os silêncios agora são só

silêncio

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A dimensão da saudade
é mais profunda que o fundo
do fim do mundo:
- imagine, a dimensão
da saudade, não cabe no mundo
só coube ni mim -

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Veja bem,
palavras são como dedos:
eu escrevo e
lhe toco.
Consciência prática?
que nada;
palavras
são como dedos:
eu escrevo a nota
e ela toca.
Incrível, não?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Medo de avião

A lua pegou carona nas asas da Gol
a vista não incluída na passagem
fez chorar quem já nem mais acreditava nisso...

Do avião ao chão,
não mais que poucos segundos,
o suficiente:

e no mais, é pura agonia?
um beijo, um adeus, um abraço?
O flatulento da direita ouvirá teu derradeiro d'sabafo...

- É, Schopenhauer, a vida pode ser pior do que a morte...


sábado, 22 de janeiro de 2011

Umbigo


Quando tudo, tudo mesmo
mesmo a lua, mesmo o céu
e as estrelas
Quando tudo, tudo mesmo
é tão só, tão simples
mera combinação de possíveis
Resta à alma derradeira, ele
o único
remanescente
transcendental mistério da natureza:

o umbigo.

Quanto não há de saudade
em tudo quanto lhe falta?
Quanto de sua ausência
não nos consome (ou alimenta)?
Pois umbigo, o que é
em sua essência
senão de nós o que sentimos falta...

Restará ao umbigo alternativa possível
que não vislumbrar
extremos inatingíveis?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Santo Dios



Paulinho acordou cedíssimo no domingo. Não queria perder uma luta! No auge de seus onze aninhos, já sabia qual seu lutador favorito: é Antonietto. Ao pai, divertiam tanto as tardes que passavam juntos... Com o tempo até se esqueceu daquele princípio de remorso, uma culpa indecisa, que o acometia logo que liberaram as lutas de gladiadores. Lembrava a indiferença com que acompanhou tão polêmico projeto, fonte de animosidade no nosso congresso.

Nos tempos de escola, Rômulo, pai de Paulinho, ouvira falar algo a respeito dos gladiadores, certamente. O que, no entanto... Não sabia quem eram aqueles homens que se dispunham a arriscar a vida na arena, enfrentando feras e outros lutadores. Já os de então eram voluntários, e por isso concordava com as lutas. Contava ao filho, “esses homens bravos escolheram lutar, meu filho, olha como são corajosos!”. Aí os olhos de Paulinho brilhavam.

O estádio, onde há pouco disputava-se futebol, apenas, e vez ou outra abrigava algum show, agora, todo mês sediava o evento. As filas eram imensas, pois só na hora se podia comprar ingressos, e tal era a fama conquistada, os preços nas mãos dos cambistas iam às alturas. Ainda mais estando entre os lutadores Antonietto.

Antonietto tornara-se lutador por vontade própria. O que não contam de sua história é que o alistamento voluntário substituía os seus 28 anos de pena restantes. Disse certa feita, “arriscar a vida na arena ou na prisão, prefiro a arena; é mais humano”. Ele liderava uma quadrilha de seqüestradores que atuava na zona norte do estado do Rio. Mas ao entrar para os torneios, o crime que o levou à prisão tornava-se informação confidencial. Esse dispositivo criava, na prática, uma segunda chance para muita gente. Fazia com que estupradores, assassinos, renascessem aos olhos do público, muitas vezes fazendo o mesmo que antes, agora, porém, como heróis. Ainda por cima, e principalmente, fazia com que Paulinho os visse como via. Via neles bravura. E de fato eram bravos homens.

As lutas começavam por volta das 9 horas, mas uma hora antes já estavam pai e filho na fila dos ingressos. Compraram lugares na cadeira especial, onde a vista era especialmente sanguinolenta. Eram nove e trinta da manhã quando adentraram a arena vinte e oito mulheres divididas em dois grupos, um vermelho e um azul. Diferenciavam-se pelas cores de suas saias e camisetas sem manga. Era essa, aliás, a vestimenta para os combates femininos. Para tal utilizavam desde porretes, facas e correntes, a um salto-alto, que o senso de humor de algum dos organizadores resolveu utilizar.

Com que ferocidade combatiam!, via-se nos olhos de Paulinho. Ao pai, encantava-o especialmente as brigas entre mulheres, pois que a certa altura suas roupas se desfaziam em meio à violência dos golpes, e ele sentia libertar o que de mais primitivo guardava. Ocorreria o mesmo a todos?

Romulo desconhecia, mas os romanos bem sabiam a importância das lutas. Meio pelo qual se extravasava toda a pulsão e agressividade inatas, estas, por incrível que pareça, acalmavam ânimos, aguçavam a sensibilidade. Punham o homem em contato com o que havia perdido, o que há de violento e implacável, e por isso mesmo o mantinham sob controle. Algo como as tragédias em que se encenavam situações limite, o homem em contato com o divino e com o trivial; tanto deuses quanto a morte incorporavam-se às tragédias. Como Paulinho, que de tantas mortes via nascer um herói.

Após o intervalo, quando se retomadas as lutas, enfim lutaria Antonietto. Dois cachorros-quentes e um refri em punhos, tudo pronto para o grande duelo. Antes, entretanto, combates de menores proporções distraíam a platéia. Anões lutavam entre si, como ocorria no longínquo império romano, anões! E com que coragem não golpeavam com seus bracinhos. Os espectadores não sabiam bem ao certo se riam, choravam, se torciam, ou que fazer. Era como uma paisagem de Salvador Dalí, ver aqueles homenzinhos empunhando armas que às vezes os superavam em comprimento.

Os ânimos contraem-se novamente. Findo o duelo dos anões, o time vermelho, vindo do estado de Alagoas para esta luta, vencera. Perdera, porém, três combatentes, apunhalados, e um quarto, estatelado num canto, incapaz de se mover. Os integrantes do time azul espalhavam-se pela arena, muitos mortos, muitos outros feridos.

Quando surgiu a idéia de se realizarem novamente eventos deste gênero, como muitas das regras originais ou perderam-se ou tinham de ser adaptadas à nova realidade, a solução encontrada fora importá-las dos torneios de Vale-Tudo. Como esta que previa a interferência de um juiz, caso um dos times se mostrasse incapaz de combater. Este decretou o fim da partida. Os corpos foram retirados e os feridos socorridos. Estivessem em Roma, o público pediria a cabeça dos vencidos: o imperador ou autoridade presente decidiria o futuro dos derrotados. No entanto, não havia mais execuções sumárias. Digo, os feridos ainda viveriam.

Paulinho não sabia bem o que moral significava. Tampouco tinha idéia do quanto se havia debatido antes que as autoridades liberassem os torneios. O que ele queria era ver Antonietto derrotar sozinho dez combatentes. Ver os golpes de espada, o sangue jorrar, a adrenalina correr em suas veias... minto, Paulinho também desconhecia a adrenalina.

Pai e filho, como aquela multidão ali presente, de um dia para o outro abriram mão de valores antiqüíssimos. A igreja decerto recusava-se a aceitar tais lutas. Dizia ser a banalização do pecado, da morte, e da mentira. Algo parecido disse Constantino, o imperador romano, ao proibir as mortes humanas nos jogos dos anfiteatros. Nada, pois, menos humano! Essa tentativa de consolidar valores sociais estava ultrapassada, ou ao menos alguns de seus meios. Os idealizadores do retorno dos jogos de gladiadores retiraram de sua nova versão qualquer possibilidade de inclusão de animais, como o faziam em tempos passados. Aí sim, uma atitude correta. Os animais não raciocinam, por isso não podem fazer tal escolha, calculando as conseqüências de participar de um evento como este. Já o homem pode.

E era um homem assim, um cidadão que se candidatara livre e espontaneamente a participar dos combates, que enfrentaria Antonietto. Luciano era seu nome. Vindo de uma muy recente carreira nos estádios do interior, era sua primeira luta na capital do estado. Empresário, optou pela carreira de lutador após ver falir sua academia. De suas lutas anteriores herdou a alcunha de “matador”. Manejou, anteriormente, espadas e punhais, mas brigava bem com porretes e de mãos limpas. Trazia também uma marca, esta física, do recente estilo de vida. Em seu último desafio perdeu o dedo anelar da mão esquerda. Não se queixava, no entanto; dizia, “não pretendia casar mesmo...”.

O combate foi bem planejado. Antonietto adentrou a arena pelo lado oeste, logo abaixo de onde observavam Paulinho e Romulo, levando a multidão ao delírio. Junto a ele outros seis homens, portavam todos bastões de ferro. Do lado oposto, Luciano mais seis repetiam o que se viu há pouco. O público ensandecia.

Observavam-se certos redutos de torcedores mais esclarecidos, que mantinham uma torcida minimamente organizada. Com isto, o que quero dizer é que, no geral, a preferência do público era tão etérea que com freqüência os torcedores mudavam o objeto de sua torcida; num momento saudavam um, no outro já berravam o nome de seu adversário. Paulinho não. Não abria mão de Antonietto. Lera no jornal as notícias de suas vitórias, mesmo nunca o tendo visto pessoalmente, pois que não era permitido televisionar os combates.

Agora ele via, de longe, é certo, mas ainda assim; via o rosto de seu herói pela primeira vez. Era alto e forte, como supunha. Mas as cicatrizes nas costas o surpreenderam. Luciano também chamou sua atenção, no comando do time azul. Parecia tão pacato sujeito, que estaria fazendo ali?

Qual não foi seu espanto ao ver mudarem as fisionomias dos lutadores. Tendo início a batalha, ambos tornaram-se em feras, e o menino não conseguia tirar os olhos dos dois principais. Com que brutalidade e elegância não aplicavam golpes na face dos oponentes. Com que leveza não se esquivavam, e como não comover com os gritos que davam quando atingidos...

A princípio, Antonietto e Luciano não se enfrentaram. E não tiveram dificuldade ao injuriar os outros lutadores. Antonietto, em um deles, desferiu tão potente golpe, que o rapaz, aparentava ter uns 25 anos, desmaiou no momento. Teria visto o que o atingiu?

Logo a briga mais aguardada tinha vez. Entreolharam-se, os dois. Os quatro, Paulinho e o pai também esperavam ansiosos.

Encaravam-se, os lutadores. Cada qual empunhava um bastão. Luciano tentou o primeiro golpe, que Antonietto desviou com um ágil movimento. Revidou com uma porretada nas costelas, que o oponente sentiu, via-se em seus olhos. Ele novamente arriscou um golpe, acertando desta vez as pernas de Antonietto, que caiu no chão.

Paulinho sentiu sua dor.

Vendo caído o adversário, Luciano armou um pulo, e caiu de paulada por sobre ele. Seu rosto sangrava tanto, de dar dó... E após tantos golpes e murros, Antonietto não conseguia se levantar. O coração do menino, nesse momento, era o mesmo que o do homem, caído, sofrido.

Luciano então, aproxima-se dele, ergue seu bastão, e com que tranqüilidade atinge em cheio o rosto de Antonietto. Ninguém duvidava de que desmaiaria, não sofresse lesões mais sérias.

Romulo olhou para o filho nesse instante. Temia a decepção do menino, ao ver definhar o seu ídolo. O garoto, ao encontrar os olhos do pai, este apreensivo, solta um grito que, via-se, vinha do fundo da garganta: “Vai Luciano! Acaba com ele”.

O pai respirou aliviado. Por pouco não ia por água a baixo o programa dominical deles. Por pouco. Mas no saldo, pensou o pai, foi um bom domingo. Os olhos de Paulinho atestavam o mesmo.

De fato, fora um bom domingo

A porta foi ultrapassada


mas por que temo,

se dei a eles

o mapa

e a chave?


Talvez achasse,

antes fosse cedo,

Não sei o que!?


Achar o que?

Que achava?


Procuro:


A cura do medo


medo de que?


Desses olhos grandes

esses olhos gigantes

que me observam no mais íntimo.


mas por que temo

se dei a eles

o mapa e a chave?


Chave de que?


Chave de mim;


Chave que nem conhecia.


Se vivi trancado,

enclausurado;


fugindo de que?

Desses olhos grandes

que me acompanham

onde não há ninguém mais.


...envergonhado


de que?,

se vivi trancado

a me esconder?