sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Porta-retrato:


Que medo é esse
que traz seu nome
e faz do esforço
do desapego
um mal necessário ao homem?

Assiste
do alto de um relicário
nos retratos de família,
entre o cinzeiro e o porta-copo,
o envolvimento da mente
o recrudescimento dos corpos;

Brinda
mais um dia no mundo
que a noite depois consome:
Morte,
talvez seja esse teu nome
e a mão que dá
talvez seja a mesma que tira
e você
já não seja só morte
e nem seja só vida.


sábado, 24 de setembro de 2011

A casa é a vida

(Sabe quando você quer muito chegar em casa, mas não pode porque essa casa não existe? Todos com a Palestina!)

Do alto da janela dos meus olhos
lá embaixo vejo os pés,
questão de método:
um depois o outro.
uma queda sempre-adiada
mas que um dia
chega.


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

( )


todos podemos ser (virtualmente) um Leão.
muitos de nós, definitivamente,
não o são.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Perde, ganha


Assistir morrer a um velhinho,
é coisa boa.
pelo menos isto ainda está no lugar:
a vida.
(se entristeço, lembro
que cada um velhinho
já foi criança um dia)

Ver chorar um menino,
desanda tudo...
e pensar quantos deles
ficaram pelo caminho
(aí, as lágrimas correm, e tenho vontade
de rir e chorar com eles);

acho que nunca superei a juventude.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011


a alegria não precisa de lastro,
a poesia sim (quem a suporte,
papel e lápis);

a alegria não lida com a morte
ao menos não diretamente;
respeita apenas
a senhora sua mãe
(que é triste como só...)

a tristeza, a saudade, o remorso
até mesmo a solidão tem hora...
a alegria por sua vez,
sempre lhe abra a porta:

que se ela implica contigo,
amigo,
duma vez vai s’imbora...


De onde vêm as pedras no pasto?

(Oração para uma noite escura)


A pedra é a pedra da pedra
(lasca de rocha primeva)
a pedra é sem mundo,
a pedra é sem mãe?
Só a pedra mais pedra
sobreviverá à manhã...


sábado, 17 de setembro de 2011


Reivindico antes o direito das vacas e bois
de pastar em paz!!
Antes o direito de um cachorro
escolher seu próprio dono.
Levar na boa a minha colméia...
ou sumir da vista como a águia some...

(Cagar e andar, para alguns, não é
mera figura de linguagem)

Direitos humanos?
deixe pra o Homem.


O rio


O presente momento é sempre culminante:
afluência de memórias, escusos desejos
vem matar a saudade pelas beiradas...

a que se encaminha?
nem que se reme contra a correnteza, nem isso
atingir a margem também
não é preciso;
o perguntar
já basta:

- pra onde?


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Agora falando sério


Quem suporta esse lance
de ser carioca e ficar
com um olho na sirene outro no traficante?
Quem, não tendo razão alguma
pra aderir às partes
beligerantes,
se vê tão mais encolhido
quando a noite adentra...

– Tiros, tiros, tiros –

A violência anda cara
no Rio, mas há
quem lhe banque:
uma parte vem do pó
outra do restaurante.

– fogos estourando –

Enquanto isso (e não obstante)
Dioníso em solo tupiniquim
sobrevive só porque esguio;
foi pro terreiro, o expulsaram
subiu o morro, ocuparam
entrou no baile, pacificaram
(não há harpa ou lira que baste!)

– uma salva de palmas –

violência mesmo não é
essa violência barata
que se vê nos jornais;
onde foi parar aquele choro cortante
de uma roda de samba?
Pisadas de pata de elefante
sobre o baile funk

– ... –

acharia bom que fizéssemos algo antes
que os corações ficassem
por demais duros
de se proteger das balas...


Um viajante solitário trava contato com um totem de pedra rígida, a própria divindade.
Interroga-lhe sem, no entanto, obter resposta, e ao reparar no céu a chuva em gestação, desespera:
- Por que me ignoras!?!
As primeiras gotas se faziam sentir bem de leve sobre a pele.
O viajante sai de cena.


terça-feira, 13 de setembro de 2011

(Vidianas)


eu estou lendo essa frase agora;
e mais essa
posso ouvi-la
na minha cabeça...
não consigo
(sei)
mas não consigo acreditar
que é só
tinta no papel.



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

despedida


a morrer estou já faz vinte anos,
um tempo longo pra aprender a morrer...

já não sei se posso me considerar morto
(quanta prentesão…)

pelo menos
                         dá pra viver.



Recusar-se a responder não nega a premência da pergunta:
o fato de sermos máquinas de elaborar sentidos
uma consciencia que é nosso cão guia
(e é mais cega que todas)
faz de cada gesto um luto
um protesto = um murro?
um preconceito é um muro já estou certo,
mas como pesa.