segunda-feira, 30 de abril de 2012

zum zum zum



o poema como um estranhamento
um destacar do comum e jogar sobre um branco metafísico
escolhido a dedo numa escala de trezentos e dezoito tipos
(a escala dos esquimós)


Haja coração


mentira
verdade
afeto
acesso
medo
desterro
tormentas
pretérito
perfeito
creio
ação
medo
sujeito
chão
canção
desculpas
palavras
o vento
leva.




sábado, 28 de abril de 2012

Bunda


mamilo:
fazê-lo
sentir-se
o mais importante
de todas as partes
(como o som
da palavra
bunda)


sábado, 21 de abril de 2012


volta
ver
volver

voltarevolta
vervolver
vólverevólver


Ilha de Creta


Labirintos sem minotauro
não valem a pena ser percorridos

ou,

Minotauros sem labirinto
não valem a pena ser combatidos?


limitações práticas


existem graus de impossibilidade:
há quem prefira escrever à de-
corar a gramática.
os limites do prático são os mes-
mos que o do batman, o herói
sem super po-
deres. Já o Superman, que lhe
importa o tamanho ou o horror
da criatura
fantástica... toda força é pro-
blemática, correndo sem ru-
mo, carregando
pedras enormes por onde pas-
sa; por isso os labirintos, da i-
lha de creta.
uma forma assaz sintomática
de dizer que os muros da pri-
são, são os
únicos que se pode pixar sem

preocupação.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

.


soubessem o que sofri
desaprendida a língua
dos homens, feito coisa
entre coisas, um objeto
falante...

e ninguém mais quereria ser poeta


Fórmula #1


É preciso respeitar o corpo
do poema, o sintagma, o
morfema, pra que o piloto
não acabe morto, esporte
perigoso, dá até pena da
mãe desses coitados, vida
que brilha, mas tão pequena

não viu?
passou...


terça-feira, 17 de abril de 2012

Mais uma loja?


É disso, então, que precisamos, mais uma loja? Talvez nas suas vitrines e prateleiras aí eu me identifique... Desconfio que não. Me pergunto quem vende essas respostas prontas para os problemas da vida de hoje? E mais: quem verdadeiramente as compra? Para debaixo de que tapete varremos essas perguntas que os olhos já estão cansados de ignorar? É para lá que devemos mirar. Desconfio, ainda mais profundamente, que as ditas respostas não estejam à venda. Que tenhamos de inventá-las, assumindo o risco e o mérito inerente à toda empreitada. Quem tem medo do novo?, quem tem a perder? E, antes de tudo, quem, na solidão de sua individualidade, há de solucionar o que se nos apresenta a todos enquanto coletividade?

Repare:
Que se tornou a rua, a praça, espaço público por princípio, senão um vazio que conecta duas propriedades? Todas as questões se tornaram, então, particulares?

Ao que interessa:
Há um prédio que, sendo um enorme monumento ao mal-gosto, localizado à Praça Cazuza (esquina entre duas das mais valorizadas vias da cidade) encontra-se fechado há meses. O espaço antes abrigou uma franquia da rede Mc'Donald's e posteriormente um comitê de campanha do candidato José Serra (daí ter sido apelidado de Mc'Serra) e, desde as últimas eleições, está às moscas. Proponho aos meus concidadãos que pleiteemos junto às autoridades encarregadas a criação de um Centro Cultural, um espaço dedicado ao debate e ao livre-pensar, à troca e às experimentações, tanto artísticas quanto vivenciais.

Até porque, as atribuições de qualquer governo que se preze não se restringem a retirar das calçadas as mesas dos bares, ou multar veículos estacionados em local irregular; mas também proporcionar e incentivar o diálogo entre as pessoas que vivem ou transitam pelo seu território. Digo que não precisamos de mais uma loja, nem de outro escritório (sem negar-lhes a devida importância). Mas urge que criemos, antes de mais nada, um espaço onde o futuro possa ser construído por todos e para todos.

Aos que comprarem esta idéia, peço que ajudem a divulgá-la. Aos que creem ser este um esforço vão, respondo preferir não conseguir a sequer tentar.

Agradecido,

Santiago Lampreia Buarque Perlingeiro.

Ventisílva


Ventilador é uma coisa engraçada:
faz circular o que ninguém vê
mas sente.

Manda embora o calor e refresca a gente...
se ventila ou no exaustor, são dois caminhos
diferentes (ou é o mesmo, muda o sentido?)

Já o ar-refrigerado, não fede nem cheira,
fica lá, todo parado, e às vezes até esquece
que está ligado (vulgo termostato)...

Ventilador é coisa devera engraçada
faz circular mas não deixa esquecer
o que ninguém vê

mas sente.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Perde, ganha





Assistir morrer a um velhinho,
é coisa boa.
pelo menos isto ainda está no lugar:
a vida.
(se entristeço, lembro
que cada um velhinho
já foi criança um dia)

Ver chorar um menino,
desanda tudo...
e pensar quantos deles
ficaram pelo caminho
(aí, as lágrimas correm, e tenho vontade
de rir e chorar com eles);

acho que nunca superei a juventude.

domingo, 15 de abril de 2012

Sintaxe


Sinta-se à vontade
para ligar os pontos
como bem entender.

Este co' este outro
quem sabe mais
quem sabe mais um pouco...

Chegue mais perto e
perigas ver: sinta-
se a própria vontade

de ler, de entender.
Sintaxe, paragoge
figuras de linguagem

nunca nada quiseram
dizer. Dizem o que
você bem for capaz

de depreender.


sábado, 14 de abril de 2012

mar azul

(Ferreira Gullar)

mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul



Verde


como tratar as cores
usando só tinta e pena?

***

verde verde verde
queria tanto rever-te
nas páginas do meu poema...

***

folha grama dóllars
tudo isso me consola
mas de verde, verde mesmo
só a fama...

***

contigo deitar-me
filigranas de amor na flora
mosquito inseto folha, bicho
tudo mais se evapora...

***

não sei por que
não posso não devo
senão aqui aludi-lo, verde...

***

sigo, pois, verde sendo
fiel e sempre sereno
no cumprimento da onda.

***

(onda: mar azul)


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Galileu Galilei


O

feito um sol, meu amor:
agora, que me importa
saber quem gira em
torno de quem.

importante é que dói
só de olhar.


Nas profundezas do raso


Ali sim.
ali dá pé
boto fé, você
tome cuidado pra não
se afogar nessa tempestade
que anuncias, apesar me pareça
não haver muito mais que quatro dedos dágua


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Oração a Minos

(Poética)


Guardar o touro.
é preciso guardar o homemtouro
pra que ninguém encontre
a fera
a fera
pra que ninguém desmonte
o labirinto
a fera
guarda
ou é guardada?



(//)



largar o ouro.
é preciso largar todo o ouro
pra que alguém encontre
e eternize
eternize
o seu maior tesouro
diz o instinto
é eterno
e ainda
vindouro



(///)



largar o osso.
preciso é largar sempre o outro
se você o ama
mesmo
mesmo
pra que alguém a encontre
por aí
a esmo
e confirme:
deste mole
mesmo

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Árcade


Deixar o amor vestir o corpo
e ele expande os limites de há
cinco minutos

Você se sente mais grande
respira fundo, e, de repente:
cai como luva

no amor, o teu corpo
agora
só falta o dela


terça-feira, 10 de abril de 2012

Semântica cambiante


Pedro é um leão.
Pedro é o leão.
Pedro é leão.
Pedro leão.


Quem é Pedro?




"Assim como um regato corre sem ímpetos, enquanto não encontra obstáculos, do mesmo modo na natureza humana, como na natureza animal, a vida corre incosciente e descuidosa, quando coisa alguma se lhe opõe à vontade. Se a atenção desperta, é porque a vontade não era livre e se produziu algum choque. Tudo o que se ergue em frente da nossa vontade, tudo o que a contraria ou lhe resiste, isto é, tudo que há de desagradável e de doloroso, sentimo-lo ato contínuo e muito nitidamente. Não atentamos na saúde geral do nosso corpo, mas notamos o ponto ligeiro onde o sapato nos molesta; não apreciamos o conjunto próspero dos nossos negócios, e só pensamos numa ninharia insignificante que nos desgosta. — O bem-estar e a felicidade são portanto negativos, só a dor é positiva."

Schopenhauer - As Dores do Mundo

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Como a morte se infiltra

(João Cabral de Melo Neto)



Certo dia, não se levanta,
porque quer demorar na cama.

No outro dia ele diz por que:
é porque lhe dói algum pé.

No outro dia o que dói é a perna,
e nem pode apoiar-se nela.

Dia a dia lhe cresce um não,
um enrodilhar-se de cão.

Dia a dia ele aprende o jeito
em que menos lhe pesa o leito.

Um dia faz fechar as janelas:
dói-lhe o dia fora delas.

Há um dia em que não se levanta:
deixa-o para a outra semana,

outra semana sempre adiada,
que ele não vê por que apressá-la.

Um dia passou vinte e quatro horas
incurioso do que é de fora.

Outro dia já não distinguiu
noite e dia, tudo é vazio.

Um dia, pensou: respirar,
eis um esforço que se evitar.

Quem deixou-o, foi a respiração?
Muda de cama. Eis seu caixão.


domingo, 8 de abril de 2012

No Afeganistão





enquanto as bombas caem
neguinho se ama em Cabul
quando os tanques entram

quando os pássaros voam
neguinho se ama em Cabul
e se o caminhão não veio

neguinho se ama
recolher os corpos...

muitas coisas vem e vão depressa demais em Cabul;

tantas outras
não.









(Versão sem cortes)



enquanto as bombas caem
neguinho se ama em Cabul
quando os tanques entram
neguinho se ama, em Cabul
quando os pássaros voam
neguinho se ama, em Cabul
e se o caminhão não veio
neguinho se ama em Cabul
recolher os corpos...

muitas coisas vem e vão depressa demais em Cabul;

tantas outras
não.


terça-feira, 3 de abril de 2012

Pode ser?

(ou passatempo na mesa do bar)


Bebe-se Coca
ou Pepsi bebe;
se não tem Pepsi
a Coca cola
e se não cola,
bebe-se Pepsi.

Bebe-se Coca
ou Pepsi bebe;
se não tem Coca,
Pepsi cola, mas
não tendo cola
Coca se bebe.

Bebe-se Coca
Cola ou Pepsi;
se não tem cola,
Coca ou Pepsi
,
água se bebe.

Bebe-se Coca
ou Pepsi bebe;
se não tem Pepsi
a Coca cola
e se não cola
bebe-se Pepsi...

Bebe-se Coca
ou bebe-se Pepsi;
se não tem Coca,
Pepsi cola, mas
e se não cola?
Coca se bebe...

Bebe-se Coca
Cola ou Pepsi.
Se não tem cola,
Pepsi ou Coca,
(escolhe-se outra):
Guaraná bebe-se.

Goya

(ou a arte de abrir janelas)


As figuras, a linguagem
são como musas do artesão,
janelas.

Abri-las se pode para
a realidade, os homens pobres
a corte, os nobres...

Pode-se abri-las para uma
miragem, cena montada
cenografada, pura imagem...

Quem sabe até, poder-se-ia
abrir janelas para o infinito
e idéia teríamos sobre o que é relativo.